Entrevista com Silvana Bianchi Pedagoga ajuda adultos a entenderem qual a percepção de perigo das crianças. |
A pedagoga Silvana Bianchi foi palestrante do Seminário "A Criança no Trânsito e os Acidentes – Os Vários Aspectos, suas Conseqüências e Atitudes de Proteção para uma Infância Saudável" realizado pela Criança Segura, em Recife, no final de abril de 2007. Silvana Bianchi abordou o tema "Desenvolvimento da criança e sua percepção do trânsito". A palestra proporcionou aos participantes uma melhor compreensão da linguagem infantil com informações e dicas que disponibilizamos para o internauta através da entrevista abaixo.
Criança Segura - Até que idade a criança encontra-se na fase oral?
Silvana Bianchi - "Fase Oral" é uma expressão da psicanálise e envolve vários componentes que abrangem os aspectos psíquicos, sociais e sexuais. Em Pedagogia, esta fase corresponde ao estágio piagetiano chamado Sensório-motor, que vai desde o nascimento até por volta dos dois anos. Nessa fase, a criança explora o mundo por meio dos sentidos e do movimento. Ela ainda não tem representação mental, ou seja, vai descobrindo enquanto está vivenciando porque não tem um acervo de informações armazenadas no cérebro e, por isso, torna-se bastante vulnerável a acidentes. Além de não ter noção de perigo colocando o dedo na tomada, debruçando-se em escadas, puxando cabo de panela, o bebê costuma levar tudo à boca, desde objetos cortantes a medicamentos, venenos e pequenos objetos que podem ser engolidos. Mesmo depois dos dois anos de idade, as crianças ainda mantêm a tendência de levar objetos à boca, porém com menos frequência e com um pouco mais de informações.
Criança Segura - Até que idade a criança não consegue discernir a fantasia do que é real e perigoso?
Silvana Bianchi - A fantasia e a ludicidade nascem com o ser humano e o acompanham até à velhice. Em cada fase, porém, mudamos as características do nosso "faz-de-conta". Mas existe um período da vida, chamado de estágio Pré-operacional, que vai de dois anos de idade até por volta dos sete anos, quando a criança vive mergulhada na fantasia, pois é este o caminho que ela utiliza para se apropriar da realidade. Ou seja, para compreender a realidade, a criança brinca e vive o faz-de-conta. Ela sempre diferencia realidade de brincadeira, o que acontece é que a criança é imatura em experiências, o que a expõe ao risco. Por exemplo: quando um menino coloca uma toalha fingindo ser uma capa de super-homem e pula da janela, ele não está creditando que é super-herói. Ele sabe que está brincando. O que ele não sabe é que pode morrer quando cair e que não há volta neste caso. A grande dica é supervisionar as brincadeiras evitando sempre aquelas que estimulam a violência, além de afastar objetos perigosos do convívio da criança, independentemente da idade.
Criança Segura - Como os pais podem contribuir para ensinar a criança o que é perigoso?
Silvana Bianchi - Durante muito tempo, a educação esteve baseada na fala do adulto, como se ouvir fosse o suficiente para compreender. Ao longo do último século, os estudos vêm mostrando que a educação precisa ser pautada na vivência da criança. Isso não quer dizer que o adulto vai queimar a criança pra ela aprender a não mexer no fogo! Mas, por meio de observações conjuntas, leituras, filmes, jogos, pequenos experimentos seguros e muito diálogo, a criança compreende melhor os riscos e passa a ser mais cuidadosa. Por exemplo: para ensinar sobre a temperatura, o adulto pode colocar três potes com água (um morno, um natural e um gelado) e brincar com a criança de colocar as mãos neles. Enquanto experimentam estas sensações, o adulto pode explicar sobre os perigos do fogo, alertando que ele é muito mais quente que aquela água. E assim por diante.
Criança Segura - Qual o momento para despertar nos pequenos a cultura da prevenção de acidentes?
Silvana Bianchi - A consciência é um processo que evolui com o ser humano. Até por volta dos dois anos de idade, a criança não tem condições mentais de compreender o perigo. Entre dois e sete anos aproximadamente, ela avança na exploração do mundo e passa a criar um acervo mental de conhecimentos. Por volta dos sete anos, ela dá um salto intelectual muito importante, passando para um estágio chamado Operacional Concreto. Nessa fase, a criança avança na compreensão de mundo e pode elaborar melhor as situações de risco. Mas é só por volta dos 12 anos, entrando na fase Operacional Formal, que a criança possui componentes mentais para elaborar pensamentos próximos aos dos adultos. Ou seja: é para educar a criança desde bebê sobre a prevenção de acidentes, explicando sempre tudo o que está acontecendo no cotidiano, mas lembrando que ela não pensa como um adulto e, por isso, precisa sempre de supervisão. Por exemplo: os pais podem ensinar uma criança desde os três anos a atravessar corretamente a rua, mas só devem deixá-la atravessar sozinha depois dos 12 anos.
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