Um método utilizado desde 2008, da 1ª a 5ª anos, para avaliar deficientes intelectuais está se consolidando como uma solução sobre o tema. O RAADI (Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na Área de Deficiência Intelectual) foi elaborado pela Diretoria de Orientações Técnicas (DOT) da Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo. Ele foi estabelecido a partir de diretrizes definidas pela professora Anna Augusta Sampaio de Oliveira, da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Câmpus de Marília.
A inclusão de aluno com deficiência intelectual tem colocado em questão a prática pedagógica em escolas regulares. Como o método de avaliação de aprendizagem geralmente é pensado para alunos comuns, profissionais da área precisam buscar a orientação de especialistas em educação especial. Essa necessidade, afirma Anna, motivou a criação desse novo modelo.
Segundo Anna, o RAADI teve como ponto de partida as expectativas de aprendizagem das crianças de 1.ª a 5.ª anos do ensino fundamental. “Também procurou envolver os professores da rede, cujas contribuições foram essenciais para que o instrumento fosse bem aceito”, conta Anna. O RAADI já é utilizado em 320 das 537 escolas do primeiro ciclo do ensino fundamental, beneficiando 2.330 alunos deficientes intelectuais. A adoção do referencial no segundo ciclo do ensino fundamental – 6ª a 9ª anos – e no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) na capital está prevista para 2012.
Na visão de Silvana Lucena dos Santos Drago, diretora do DOT, o que distingue o RAADI é seu processo de elaboração, respaldado na realidade das escolas inclusivas e no trabalho dos professores das diferentes áreas curriculares. Os subsídios partiram de representantes das 13 diretorias regionais reunidos no Centro de Formação e Apoio à Inclusão (CEFAI). Dessa colaboração nasceu uma proposta de avaliação que considera as adequações curriculares necessárias para o atendimento às condições do estudante com deficiência intelectual.
A metodologia de avaliação elaborada por Anna foi apresentada em forma de artigo científico no XI Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores e I Congresso Nacional de Formação de Professores, em agosto. O referencial também é o tema do mestrado de Fernanda Oscar Dourado Valentim, professora da rede municipal de Marília (SP). Com orientação de Anna Augusta, Fernanda entrevistou professores do município, constatando a insegurança e as dúvidas quanto à avaliação tradicional, baseada na nota. Fernanda destaca a inovação do RAADI, que tem demonstrado ser um apoio efetivo para os docentes medirem o progresso do aluno com DI.
“Iniciativa de coragem”
Um dos diferenciais do RAADI é que ele observa o contexto em que o aluno está inserido, diz Anna. Outro aspecto diz respeito ao estudante com maiores comprometimentos neurológicos, cuja avaliação não pode ser feita pelos indicadores curriculares. Neste caso, o instrumento sugere um olhar específico para a deficiência, de acordo com aspectos da percepção, motricidade, desenvolvimento verbal, memória e desenvolvimento socioafetivo.
Por meio de apontamentos da situação de cumprimento dos objetivos curriculares, o professor pode assinalar se o estudante “realiza satisfatoriamente”, “realiza parcialmente”, “realiza com ajuda” ou “não realiza” cada um dos itens estabelecidos. Para Silvana, com o RAADI, os profissionais puderam perceber o quanto desconheciam as possibilidades dos estudantes deficiência intelectual. “Mexer com questões da prática pedagógica foi uma iniciativa de coragem cujos resultamos começamos a colher”, salienta.
Para Anna Augusta, o instrumento também possibilita ao professor traçar suas estratégias de ensino, na medida em que pode verificar os pontos fracos e fortes do estudante. O parâmetro está ajudando, ainda, a confirmar hipóteses, como as de que o aluno com essa deficiência é mais inclinado à leitura do que à escrita e consegue melhor desempenho escolar se tiver ajuda para a realização das tarefas.
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