terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cada um aprende de um jeito

Professores propõem a alunos de 1ª a 8ª série com deficiência as mesmas atividades planejadas para os demais

A lei é categórica: todas as crianças e jovens de 6 a 14 anos devem estar matriculados na rede regular de ensino, sem exceção. Entre os objetivos que se apresentam, está o de ensinar os conteúdos curriculares de uma forma que permita também aos que têm deficiência mental aprender. Para alcançá-lo, é necessário respeitar o ritmo e os limites de cada aluno e propor as mesmas atividades a toda a turma - incluindo os estudantes que têm deficiências como síndrome de Down, síndrome de Williams e autismo. Algumas estratégias utilizadas pela Escola Viva, em Cotia (SP), e pela EMEF Professor Francisco Weiler, em Morro Reuter (RS), permitem que essas crianças e jovens não freqüentem as aulas apenas como um passatempo ou uma atividade de recreação.
O conceito de inclusão deve estar contemplado no projeto pedagógico da escola. Atividades com esse propósito se encaixam no dia-a-dia dos professores e alunos (veja os quadros desta página e das seguintes) e tendem a dar resultados a longo prazo. Na Escola Viva, por exemplo, todos os alunos com deficiência têm exatamente os mesmos materiais que os demais, garantindo que ninguém se sinta discriminado.

João Gabriel Uemura, 16 anos, é aluno da 8ª série e no começo do ano fez questão de que a mãe comprasse para ele cadernos para todas as disciplinas, mesmo não sabendo ler e escrever de forma convencional. Assim como os colegas, João colou nas capas imagens de seus heróis preferidos. Isso o faz se sentir parte do grupo.

O simples fato de ter o material já ensina. Certa vez, Diogo Mitsuro Nakagawa, 15 anos, aluno da 8ª série, disse a Rossana Ramos, diretora da escola: "Amanhã é sábado e eu vou passear com meu pai". A diretora perguntou como ele sabia que o dia seguinte seria um sábado. Ele respondeu: "Porque hoje teve apostila de Sociologia. Então hoje é sexta-feira". Segundo Rossana, ter um material que estabelece a rotina da escola deu a esse aluno a noção de tempo. "Essa foi a aprendizagem dele naquele momento."

Escrita própria

Outra preocupação constante dos professores é pedir que esses estudantes escrevam, não importa como ou o quê. Na Escola Viva acredita-se que todos podem avançar e cada progresso é percebido e comemorado. Apesar de também ter baixa visão, João usa todos os cadernos e não deixa de registrar uma lição sequer. Quando entrou na escola, há cinco anos, as páginas eram repletas de desenhos e rabiscos. Nesse tempo, ele aprendeu a escrever seu nome, percebeu que a escrita se faz da esquerda para a direita e passou a rabiscar no caderno pautado "minhoquinhas" (a chamada escrita social), que iam do começo ao fim da linha. Hoje, ele reconhece que os textos são compostos de muitas palavras. Por isso, ele dispõe diversas "minhoquinhas" na mesma linha. Para deixar o caderno organizado e bonito, João sempre coloca "título" e "data" nos trabalhos, com canetas de cores diferentes. "No caderno de Matemática, no entanto, ele só usa números", conta Rossana.

A proposta pedagógica leva em conta também as necessidades de adaptação dos alunos com deficiência a pessoas e ambientes novos. É comum essas crianças e jovens, assim que entram na escola regular, não quererem permanecer mais do que cinco minutos dentro da sala de aula, terem comportamentoagressivo ou se refugiarem no isolamento. Quando chegou à adolescência, muitas vezes Davi Nascimento da Silva, hoje com 15 anos, aluno da 8ª série, não queria nem saber de entrar na classe. Não conversava, apenas passeava pelos corredores ou ficava sentado no parque, onde ele se sentia mais à vontade.

Em vez de insistir para que Davi permanecesse em sala, os professores levavam a turma para o parque e lá davam suas aulas. Isso ajudou muito o garoto a se aproximar do grupo. A equipe da escola se orgulha dos progressos do menino. Hoje ele conversa, brinca e joga bola com os colegas, participa de todas as aulas - do lado de dentro da sala - e respeita a rotina e as regras comuns a todos. "Nos dias em que o Davi está mais agitado, deixamos que ele saia um pouquinho da sala. Ele dá um passeio, volta e retoma as atividades", afirma a coordenadora, Daniela Jarandilha.

Na escola Professor Francisco Weiler, o cuidado com o outro faz parte da rotina da garotada. Nas salas em que há estudantes com deficiência, os professores organizam um rodízio para determinar quem vai auxiliar o colega a cada dia.

E essa mãozinha não se limita às tarefas de classe. O ajudante da vez acompanha o amigo na hora da merenda, escolhe um livro e conta a história para ele ou o ajuda a ir ao banheiro. "Eles se sentem importantes com essa atribuição e é esse sentimento que queremos despertar", afirma a diretora, Dayse Eckhard Ondan.

A participação da família


A aprendizagem sobre a importância da inclusão chega até os pais. "Eles aprovam a experiência diária dos filhos. Muitos contam que as crianças se tornam mais cooperativas", constata Dayse. A mudança de atitude é fruto de muita conversa e da parceria com as famílias. No início das aulas, os pais participam de uma reunião em que a equipe pedagógica explica os procedimentos da inclusão e qual o papel da garotada nessa área. Ao longo do ano, também assistem a quatro seminários, em que podem tirar dúvidas e sugerir temas de discussão.

Todas essas diretrizes fazem das duas escolas espaços abertos às diferenças. Nelas, as crianças com deficiência ganham muito, pois são estimuladas constantemente a avançar e as demais aprendem a respeitar os colegas. Os pais, que estudaram em escolas onde a convivência com as diferenças não fazia parte da proposta, têm a oportunidade de aprender junto com os filhos um comportamento solidário e cidadão.

Cor no material
 Foto: Daniel Aratangy

Foto: Daniel Aratangy
Crianças e jovens com deficiência mental geralmente têm dificuldade de se concentrar por muito tempo. Para prender a atenção delas, são recomendadas atividades dinâmicas e que envolvam muitas cores. Leila Splendore, coordenadora de Matemática da Escola Viva, tem uma estratégia simples: usar gizes coloridos ao escrever no quadro e dar lápis de cor e canetinhas para os alunos fazerem seus registros nos cadernos. Ela também cria jogos com tabuleiros bem coloridos em que utiliza elementos do cotidiano da turma: números de duas casas, que podem ser relacionados à idade dos alunos, e papéis representando cédulas de real.

Trabalho em grupo
 Foto: Tamires Kopp

Foto:Tamires Kopp
A criança com deficiência mental deve ser solicitada a participar de todos os projetos junto com a turma. Na escola Professor Francisco Weiler, a professora da 2ª série Jóice Mallmann organiza as crianças sempre em grupos, para estimular a colaboração entre todos e integrar Bianca Amado Farias (à esquerda), 8 anos. Na hora de produzir um jornal sobre Morro Reuter, o município gaúcho onde mora, ela ajudou a escrever os textos e também a fazer as ilustrações, tudo com muito capricho.


Portfólio exibe os avanços
 Foto: Daniel Aratangy

Foto: Daniel Aratangy
 Fazer um portfólio com as produções da garotada durante sua permanência na escola é fundamental para ajudar a acompanhar o progresso de cada um e planejar novas intervenções. No caso das crianças com deficiência mental, esse recurso mostra que elas também avançam - o que é animador para seus professores. Em 2003, Diogo, aluno da 8a série da Escola Viva, escrevia uma letra em cada página do caderno. Agora, ele já assina o nome, usa números e escreve algumas palavras com várias letras.

Hora do faz-de-conta
 Foto: Tamires Kopp

Foto: Tamires Kopp
A professora Jóice sempre sugere às crianças inventar as próprias brincadeiras. Nada está pronto: elas têm de usar, por exemplo, almofadas, bexigas, fantasias, tecidos e papéis.

No início de 2005, quando entrou na escola, Bianca (à direita) apenas observava essas atividades. Com a insistência dos coleguinhas, ela hoje participa, sorridente, e escolhe as roupas que quer vestir. Brinca de princesa e, ao final, senta em roda com os colegas e a professora para contar o que fez. A garota já participa da fantasia dos amigos e ensaia as próprias.

Os cinco sentidos
Foto: Daniel Aratangy
Foto: Daniel Aratangy
Utilizar materiais com diferentes texturas, estimular o olfato dos alunos e fazê-los aguçar os ouvidos são estratégias valiosas. Para divertir a turma do 1º ano do Ensino Fundamental e prender a atenção de Clayton Deutschle (segurando o livro), 10 anos, a professora Juliana Zimmer, da escola Professor Francisco Weiler, inicia as aulas com dança e canto. Na hora da leitura, ela pede que as crianças façam gestos e produzam sons relacionados ao enredo.
 
Atividade manual
Foto: Tamires Kopp
Foto: Tamires Kopp
Quando um aluno termina a atividade antes dos colegas, pode começar a tumultuar a aula ou tirar a concentração dos demais. A criança com deficiência mental não é diferente. Ela muitas vezes perde o interesse pelas tarefas. Por isso, é importante sempre deixar na sala materiais de artes para que todos possam colar, pintar, desenhar, moldar ou bordar no tempo livre.

Essas atividades ajudam também a melhorar a concentração dos alunos com deficiência. No contato com a arte, Valentina Chaluleu, 15 anos, aluna da 7ª série da Escola Viva, aprimora a concentração e demonstra interesse pelas tarefas.

Atividades inclusivas...

• Fazem os alunos com deficiência mental avançarem dentro de seus limites.

• Mostram que todos são parte importante do grupo.

• Estimulam o respeito e a cooperação.


Bibliografia

Passos para a Inclusão, Rossana Ramos, 48 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3864-0404, 9 reais

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 192, Maio 2006. 
 

http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/cada-aprende-jeito-424484.shtml

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

É hora de garantir a aprendizagem de todos...

Receber os estudantes com deficiência é um avanço. Mas falta fazer da inclusão uma realidade e assegurar o direito à Educação



Foto: Tatiana Cardeal
Estudante lendo livro em Braille

Poucas áreas da Educação mudaram tanto nos últimos 25 anos quanto a inclusão de crianças e jovens com deficiência. Até meados dos anos 1980, o normal era mantê-los privados da convivência com os demais. Os poucos que frequentavam uma sala de aula estavam em instituições exclusivas. Foi há duas décadas que esses alunos começaram a chegar às redes regulares. Primeiro, apenas ganharam o direito à matrícula. A inclusão, de fato, só veio mais tarde, quando entrou em cena a preocupação com a aprendizagem.

O preconceito foi o maior empecilho. Durante muito tempo, acreditava-se que uma criança cega não fosse capaz de aprender tanto quanto outra que enxerga normalmente. Quando o caso era de deficiência intelectual, então, nem se falava na necessidade de estudar. Hoje parece inacreditável, mas nos anos 1980 um jovem com deficiência intelectual ou com altas habilidades era chamado de "retardado". Na década seguinte, consagrou-se a expressão "crianças excepcionais" para se referir a esses estudantes (em oposição aos ditos "normais").

À medida que a sociedade descobria que o leque de possibilidades para esses alunos poderia ser ampliado, mudava também a forma de se referir a eles. No início dos anos 2000, era comum a expressão "portador de deficiência". Mas ela logo foi abandonada porque a deficiência não é algo que se carrega num momento e em outro, não. Hoje, o mais correto é dizer "pessoa com deficiência".

Como boa parte das mudanças na Educação, também no campo da inclusão tudo começou com a Constituição de 1988, que garantiu o direito de todos à escolarização e estabeleceu que o atendimento deveria ser feito preferencialmente na rede regular de ensino. Nem por isso a situação se transformou rapidamente. Professores, diretores e representantes das Secretarias de Educação acreditavam que cabia à própria criança adaptar-se às atividades. O professor não precisava alterar em nada sua aula ou oferecer materiais diversificados. O resultado é que as chamadas instituições especiais de ensino continuaram com grande número de matriculados.

Felizmente, iniciativas individuais de professores provaram que é possível para um jovem com deficiência acompanhar o grupo e aprender como os colegas (processo semelhante ao que ocorreu em todo o mundo). Assim, quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foi aprovada, em 1996, já havia consenso entre os especialistas de que era preciso mais do que garantir só a matrícula desses alunos. Por vários anos, porém, a LDB provocou uma espécie de mal-entendido.

No capítulo V, que trata especificamente da Educação Especial, está escrito que essa modalidade de ensino deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e, quando necessário, com serviços de apoio especializado. A palavra "preferencialmente" fez com que poucos Estados e municípios abrissem as portas das redes - e o atendimento obrigatório na escola regular só foi formalizado 12 anos depois, com a criação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que define claramente que é obrigatória a matrícula nas redes regulares, com atendimento educacional especializado no contraturno.



Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/inclusao-no-brasil/hora-garantir-aprendizagem-todos-618053.shtml

sábado, 28 de janeiro de 2012

Inclusão - Você está preparado???

Olá pessoal!

A Nova Escola oferece um questionário para os professores,  tente responder às questões e avalie se você é um educador ou uma educadora preparada para trabalhar o tema.



1 - Recusar a matrícula de um aluno por causa de uma deficiência é crime?

2 - Crianças com deficiência física necessitam de cuidados específicos na hora de se movimentar e participar de atividades na escola?

3 - O professor deve propor atividades escolares mais fáceis para crianças com deficiência?

4 - Crianças cegas precisam de profissionais especializados que as ajudem a ir ao banheiro e a se alimentar na hora das refeições?

5 - As crianças surdas são totalmente insensíveis ao som?

6 - Pais de crianças com deficiência podem exigir a matrícula de seus filhos em qualquer escola, pública ou privada?

7 - Quem apresenta comprometimento nos movimentos dos braços e também das pernas tem deficiência múltipla?

8 - Se a criança é cega ou tem baixa visão, é util para ela que a escola tenha placas de sinalização nas portas e corredores?

9 - Estudantes com deficiência podem ajudar colegas sem deficiência nas atividades?

10 - Professores da sala regular devem incentivar estudantes sem deficiência a fazer parte do processo de inclusão de colegas com deficiência?

11 - A criança surda, com atendimento especializado, pode aprende a escrever no mesmo ritmo que as demais?

12 - A criança cega tem condições de reconhecer o rosto dos colegas de classe?

13 - Professores da sala regular podem adaptar materiais para facilitar a participação de estudantes com deficiência?

14 - Os estudantes com deficiência devem opinar sobre as medidas adotadas para apoiá-los na escola regular?

15 - Crianças cegas podem participar das aulas de Educação Física?

16 - Estudantes com deficiência mental conseguem desenvolver as habilidades de ler, escrever e fazer contas e ser independentes?

17 - Mesmo dominando a língua de sinais, a criança surda pode aprender a falar?

18 - Uma escola só pode ser considerada inclusiva quando tem crianças com deficiência?

Créditos: Nova Escola.